domingo, 21 de setembro de 2008


ODE AO GATO

Pablo Neruda

tradução: Eliane Zagury


Os animais foram imperfeitos, compridos de rabo, tristes de cabeça.

Pouco a pouco se foram compondo, fazendo-se paisagem, adquirindo pintas, graça vôo.

O gato, só o gato apareceu completo e orgulhoso:

nasceu completamente terminado, anda sozinho e sabe o que quer.
O homem quer ser peixe e pássaro,

a serpente quisera ter asas,

o cachorro é um leão desorientado,

o engenheiro quer ser poeta,

a mosca estuda para andorinha,

o poeta trata de imitar a mosca,

mas o gato quer ser só gato e todo gato é gato do bigode ao rabo,

do pressentimento à ratazana viva,

da noite até os seus olhos de ouro.
Não há unidade como ele, não tem a lua nem a flor tal contextura:

é uma coisa só como o sol ou o topázio,

e a elástica linha em seu contorno firme

e sutil é como a linha da proa de uma nave.

Os seus olhos amarelos deixaram uma só ranhura para jogar as moedas da noite .
Oh pequeno imperador sem orbe, conquistador sem pátria, mínimo tigre de salão,

nupcial sultão do céu das telhas eróticas,

o vento do amor na intempérie reclamas quando passas e pousas quatro pés delicados no solo, cheirando, desconfiando de todo o terrestre, porque tudo é imundo para o imaculado pé do gato.
Oh fera independente da casa, arrogante vestígio da noite, preguiçoso, ginástico e alheio,

profundíssimo gato, polícia secreta dos quartos, insígnia de um desaparecido veludo, certamente não há enigma na tua maneira, talvez não sejas mistério, todo o mundo sabe de ti e pertences ao habitante menos misterioso talvez todos acreditem, todos se acreditem donos, proprietários,

tios de gato, companheiros, colegas, discípulos ou amigos do seu gato.
Eu não. Eu não subscrevo.

Eu não conheço o gato.

Tudo sei, a vida e o seu arquipélago, o mar e a cidade incalculável, a botânica o gineceu com os seus extravios, o pôr e o menos da matemática, os funis vulcânicos do mundo, a casca irreal do crocodilo, a bondade ignorada do bombeiro, o atavismo azul do sacerdote, mas não posso decifrar um gato.

Minha razão resvalou na sua indiferença, os seus olhos têm números de ouro.

7 comentários:

  1. belo texto, que exemplifica quase com exatidão o que são nossos queridos felinos!
    =** beijao!

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  2. pablo neruda é pablo neruda. e gato é gato. belo texto.

    nana, então quer dizer que eu sou mesmo uma princesa, sou? sou mais bonita que a princesa diana? sou sim,né? eu sou a princesa mais linda do mundoooo!!!

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  3. Nana, entrei no seu blog a procura de receitas de tricô e deparei com uma "amante" dos gatos. Tenho uma amiga gateira que tem um blog super bacana e queria te indicar: gatoca.blogspot.com. Você vai curtir.
    Amo animais e sou cachorreira de coração. Se tiver curiosidade, entre no meu blog, que trata das minhas experiências bizzaras como mãe de cachorro. Beijos ! Fernanda

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  4. Nana!

    Você passou pelo meu blog, foi muito gentil, e eu demorei tanto assim para vim conhecer seu cantinho... Enfim, muito obrigada pela visita, eu também tenho A L G O com gatos!! Verdadeira paixão!!! Te entendo!! rsrsrs

    Criei um blog novo, da minha marca de camisetas. Passe lá quando tiver um tempinho!
    E muito obrigada pela visita!

    Beijocas,
    ;)

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  5. Olá, amiga!
    Passei para deixar-lhe um abraço e desejar-lhe um ótimo e maravilhoso final de semana.
    Bjs.
    Dô.

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  6. adorei o texto!
    :)
    ass: Denise

    e nós tb!
    ass: Brother, Shanti e Gigi

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  7. Olááá!
    ah, é verdade sim menina, tô doida pra arrumar uma irmã(o) pra Pan, mas como ainda moro com meus pais, não dá. Mas assim q eu for embora de casa morar sozinha é uma das primeiras coisas que farei ^^
    beijao!

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Seu recado será lido com muito carinho !!!
Obrigada pela visita e volte sempre.
Bjs
Nana